quarta-feira, 17 de novembro de 2010

CIDADES


Ouro Preto é mesmo uma cidade
de paradoxos. Se o visitante deixar um pouco de lado os pontos turísticos clichês, aqueles que seus guias conhecem e os apontam até de olhos vendados, e se aventurar com um pouco mais de curiosidade, poderá ser brindado por cenas únicas, inesperadas e tão originais à bela cidade mineira. Não desmerecendo as magníficas e muitas igrejas, os lendários monumentos e construções que completam o belo centro histórico, a cidade oferece muito mais do que a sua tradicional ode à história de Minas e do Brasil. Ela é possuidora de uma alma única que se traduz em um cotidiano, também único.


A
foto acima, exemplifica bem essa realidade. O antagonismo físico e, de certa forma, imaterial, presente na imagem, pode ser delineado por uma linha imaginária, onde são perceptíveis as antíteses do espaço cenográfico. São ruas com fluxo constante de pessoas, dividindo a cena com becos bucólicos, onde não passam ninguém. É como se nem existissem ou, simplesmente, significassem espaços proibidos, imunes aos turistas e aos próprios moradores. Mas eles estão lá, despertando o interesse ou não. Assim como estão presentes também, como patrimônio maior da cidade, a hospitalidade e o bom humor da sua gente, sempre interessada em agradar. Que o diga os dois jovens abaixo.


Eles são, respectivamente, Luíz Israel dos Reis, de 20
anos e Jackson Roberto Guimarães, que tem 22 anos.
Ambos, nasceram e cresceram em Ouro Preto e afirmam que não deixariam a cidade por nada. Jackson trabalha cinco horas diárias em uma loja de jóias e está cursando o último período de engenharia de produção. Conta que pretende, depois de formado, conquistar um emprego na própria região. Segundo ele, a cidade oferece ótimas oportunidades para os jovens. A arquitetura típica do município nunca o deixou de fascinar. Entretanto, Jackson não vê com bons olhos a descaracterização da paisagem da cidade provocada pelas construções recentes. Já o seu amigo Luíz, que trabalha na recepção de uma pousada, chama a atenção para os festejos que a cidade promove ou recebe todo ano. Destaca o carnaval, como o principal deles.


P
ara Luíz, Ouro Preto é o melhor lugar do mundo para quem quer se divertir. "Essa agitação da cidade se deve também à presença das inúmeras repúblicas de estudantes", conta o rapaz, que está se preparando para o vestibular. Vai estudar Direito. Assim como Jackson, Luíz também reprova as novas construções no entorno do casario histórico. Mas, estas construções, a cada dia, são cada vez mais numerosas.
Eles consideram que estas novas habitações, fazem com que Ouro Preto perca a identidade. Ainda assim, se mostram orgulhosos por fazerem parte dela. Mas, os dois também são unânimes em concordar que o maior problema da antiga Vila Rica, são os esgotos.
Não é difícil imaginar o porquê. Cidade antiga, estruturas também antigas, onde as adaptações da modernidade não são assim tão fáceis de fazer. Portanto, imagens como esta, não podem ser atribuidas somente ao descaso do poder público.


Na verdade, elas são o exemplo do grande desafio que é fazer com que uma cidade histórica passe, e ao mesmo tempo, permaneça incólume às mudanças sociais e estruturais, responsáveis pela sua sobrevida, sem modificar-lhes as essências. Pois, são estas essências que conferir-lhe-ão, muito mais do que a historicidade natural, a alma verdadeira da cidade impregnada em cada pedra antiga, cada rua estreita e íngreme, cada monumento já atingido por milhões de flashes - profundos ou não, cada beco deselegante e simplório que o turista não "enxerga". Se é que turista enxerga. No máximo, vê. Portanto, nem tudo está perdido. Já que Ouro preto, em si, facilita e muito a visão. É como se ela, a cidade, fosse equipada com elementos que nos dissipam o esforço de compreendê-la. Mas, ela exige que não sejamos preguiçosos. E nos recompensa pelo nosso esforço físico. Deve ser coisa própria da sua alma generosa, linda e extremamente encantadora.
(Com o devido respeito a João do Rio)

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